Uma de minhas características mais marcantes e menos dignas de orgulho é a intrepidez, para usar um eufemismo bonito de teimosia. Na cozinha (mais até do que fora dela), tal propriedade é acentuada pelos ímpetos de bater bolinho e pelas inúmeras – e muitas vezes infrutíferas – tentativas de assar um pão aceitável.
Posso imputar um pouco da culpa nos genes, já que a Vó Nair, embora doce e incapaz de ralhar conosco, tinha a cabeça branquinha de uma inflexibilidade que só aqueles que com ela conviviam diariamente podiam perceber.
Nos últimos anos, quando Vô Juju não estava mais presente, era sua irmã mais nova, a Dada, quem lhe fazia companhia. Vó Nair não se conformava que a Dada não fosse tão independente e sacudida quanto ela, que aceitasse de bom grado qualquer ajudinha para subir uma escada ou levantar-se do sofá e, principalmente, que ela aguardasse todos os dias a Vó se vestir para escolher para si um figurino igualzinho.
Acho que a Vó descontava na Dada toda a sua ranhetice, pois não me lembro de episódios de obstinação extrema na frente de netas e netos. Quanto aos meus descendentes, não posso ainda precisar se vão sofrer ou se deleitar com minhas teimosias.
Pois se nosso fraco e nosso forte andam juntos, é também de minha intrepidez que nascem muitas surpresas felizes na cozinha. Como este Pão de Abóbora, por exemplo.
Resisti à tentação de fazer algumas substituições e de trocar a temperatura do forno, o que denota que, com uma dose de esforço e vinte e cinco colheradas de fé, bem sou capaz de seguir uma receita sem deturpá-la. E nada me demove da crença de que foi minha cisma de fazer um pão que prestasse o ingrediente principal desta feita!
Ingredientes:
- 3 tabletes de fermento fresco para pão (45 g)
- 3 colheres de sopa de açúcar
- 1 colher de sopa rasa de sal
- ½ xícara de creme de leite fresco
- 3 ovos inteiros
- 1 ½ xícara de abóbora já cozida e passada no liquidificador
- 6 xícaras de chá de farinha de trigo
- leite para pincelar
- sementes de papoula para salpicar
Como fazer:
- Numa tigela bem grande, onde você pretende amassar o pão, dissolva o fermento no açúcar. É um fenômeno que sempre me encanta, esse de transformar dois sólidos num líquido apenas com a ajuda das costas de uma colher.
- Adicione a essa mistura o sal, o creme de leite, os ovos e a abóbora. Mexa com a colher de pau apenas para homogeneizar um pouco.
- Aos poucos, vá acrescentando a farinha, trabalhando a massa com as mãos. Nessa hora, o Leitor e a Leitora hão de crer que fechei os olhos e, num ato de muita fé, esquivei-me de acrescentar mais farinha. A massa ficou um pouco grudenta, mas é assim que deve ser.
- Cubra a vasilha com um saco plástico e um pano de prato e deixe a massa descansar por meia hora. Não fique espiando toda hora! Vá fazer outra coisa e deixe seu pão crescer em paz, pois desconfio que essas massas são bastante tímidas.
- Findo o tempo regulamentar de meia hora, abaixe a massa com as mãos e transfira-a para duas formas de bolo inglês (27 cm X 11 cm) previamente untadas com óleo. Se preferir fazer como eu, use apenas uma forma de bolo inglês e divida o restante da massa em forminhas de muffin. Ficaram assim, ó:
- Cubra a massa novamente e deixe-a lá para crescer tranqüila. Repito que ela vingará longe dos seus olhos, que essa delícia é por demais arisca para se permitir saliências na frente da cozinheira. Se for preciso espiar, faça-o somente depois de uma hora. Considere a missão cumprida quando a massa dobrar de volume.
- Pincele os pães com o leite (ou gema, se gostar), salpique a semente de papoula e leve-os ao forno preaquecido em temperatura moderada para branda, em torno de 180 graus. Deixe-os lá por 40 minutos. Em meu forno foi a conta, ainda bem, pois não precisei improvisar nem teimar contra a natureza da massa.
A receita, colada num caderno antigo, não dava pistas da procedência. Dela copiei os ingredientes para ter a certeza de que o Leitor e a Leitora também poderão repetir minha feita. Já o modo de fazer, não muito detalhado no original, fui anotando nos intervalos para não esquecer.
Dadi,
Acho que vc tem que continuar “teimando” mesmo – taí a prova, que pão lindo!
Oi Dadivosa! É,existe alguma coisa de cozinheira no seu “fazer artístico”.E mais uma vez voce me envolveu do início ao fim,à começar pelo ingrediente principal ,a abóbora ! Beijo Tania Lampe.
Dadivosa que pão mais lindo! E a cor?!?! Foi lindo você ter “teimado”.
Dadi, nunca comi pão de abóbora (este tem uma cor linda. além de infalível, este pão poderia chamar “irresistível” hehe). Concordo com a Eliana e a Patricia: continuem teimando!!
É hoje, hein?? Não vou perder o programa!
Bjos
Dadi, amiga…
Vc nem sabe… meu zóim cresceram foi pra cima das sementinhas de papoula! Adoro uma sementinha! Daí pensei: ‘Ai, é bolo!’ E só dispois que fui ler ‘pão’.
Bom… resumindo? Seu post veio bem a calhar com uma sussessão de comments trocados hj no Rainhas. Descobri ‘calegas’, que igual que nem eu, tbm não batem nem bolinho de caixinha! Imagina minha alegria de não estar só nesse mundo de meu Deus! Rsrs…
Mas vossa majestade Katita logo disparou:
– ‘Já todo mundo a fazer intensivão com Milady Dadivosa!’
Que que eu posso fazer?!?
O desejo de Majestade é uma ordem!
E aqui já temos a lição número1: INTREPIDEZ!
.
Dadivosa, coisa mais linda esse pão.
Sabe que ontem eu fiz um pão recheado que peguei a receita lá na Márcia. Ficou tão bom….Mas acho que estava um pouco cru. Risos. É que ela não colocou a temperatura do forno e eu devo ter colocado muito alto. Enfim, comi pão cru, mas bão demais d conta.
Agora eu vou fazer esse seu. No final de semana.
Beijo beijo
Patrícia, começo a crer que é possível superar alguns traumas culinários… como o de cookies, por exemplo. Quando minha teimosia chegar nesse nível, esteja certa de vai ser na Technicolor Kitchen que buscarei inspiração!
Tania, esse pão fica delicioso para quem gosta de abóbora, e também para quem não dá muito crédito a ela. O sabor é suave e indescritível… só fazendo mesmo.
Eliana, seus pãezinhos e cozinhandos também me inspiram a teimar, esteja certa disso.
Silvia, é irresistível de verdade. Você não calcula a quantidade que eu comi, ainda pelando, com manteiga, com lábane e purinho 😉
Sora, eu topo! Que bolinho você gostaria de ver detalhado por aqui para iniciar seu intensivão, hein? Um de liquidificador, talvez? Que tal começar pelo bolo de iogurte? Faço votos de que você “dê providência” (para usar palavras da Katitamada) logo nesse bolinho 😀
Juliana, fornos são criaturas de muita personalidade. Muito embora passemos as temperaturas e tempos, cada um é de um jeito. O meu, por exemplo, me conhece há uns seis anos e vive me pregando umas peças. O que salva mesmo é a prática… ou a teimosia da cozinheira 😀
;***
Fer, gostei muitissimo dessa ideia para o uso da abobora! Sera que tento? Nao sei se tenho a sua intrepidez… 😉 beijooos,
Que pão lindo! Estou com mil receitas com abóbora pra fazer e nada de comprar a danada! Acho engraçado é que sempre venho nos comentários pra saber se você gostou da receita que fez – geralmente você não diz (rs).
Esse pão vai engordar minha lista, eu sou louca por pães!!! Beijos.
Dadi, graças a você está nascendo em mim uma imensa vontade de fazer um pãozinho….daqui a pouco já tô até batendo um bolinho…..rs!
Beijos querida!
PS: Pela foto dá pra imaginar o quão apetitoso este pão estava!!! Hummm…
Intrépida amiga.continue assim. Lindíssimos os teus pães. E o da forminha de mufin ficou fofíssimo.bjocas
Bolinho de iogurte??? E de ‘lificador’???
Light e descomplicado???
Tudo o que eu pedi a DEUS!!!!
Rsrsrs…
Estava procurando uma receita de pão de abóbora quando encontrei o seu blog e fiquei ainda mais motivada para preparar esta receita. Mas devo dizer que a sua forma de escrever me chamou a atenção. Ah! Se todos os blogs e sites de receitas tivessem textos como os seus! Parabéns pelo excelente trabalho!
que delícia! queria fazer um pão parecido com esse, mas de mostarda! Tem idéia pelo o que poderia substituir a abóbora? (acho que as duas juntas iam brigar..)
obrigada!
Luisa.
Adicino o mesmo comentario da Aline, você escreve muito bem, transformou uma receita simples em uma história cheia de sabores. Encantador!
Achei seu blog por acaso, também procurando uma receita de pão de abóbora para agradar minha mãe. Ela vive me pedindo para fazer um pão de abóbora como o que fiz na minha adolescência, quando resolvi aprender pães diferentes – para alegria da família e do mercadinho perto de casa que nunca tinha vendido tanta farinha!
Vou tentar a sua receita, obrigada!
Ma. Eugenia
Nao fiz ainda suas receitas, mas voce escreve lindo!!!!
Vou comprar os ingredientes hoje e fazer este pao maravilhoso para encantar meu marido australiano. Muito obrigada!
Olá Dadi!
Estava procurando por uma receita de pão de abóbora ( visto que tenho uma em casa e não sabia o que fazer com a tal) e me deparei com a foto de seu pão, que pareceu apetitoso. Porém o que mais apreciei foi sua forma de escrever bem humorada e perspicaz. Parabéns e muito sucesso!
Oi Dadi!!!
Fiz o pão mas ele não ficou tão colorido quanto o seu…, mesmo assim o sabor ficou bom e ele ficou bem macio. Às vezes acho que os pães têm vida própria! Vou fazer de novo em outro dia mudando o tipo de abóbora pra ver como ele se comporta. Por acaso também sou “intrépida” na cozinha!
Beijos!
Olá!
Estava a algum tempo procurando uma receita de pão integral com algum tipo de legume mas nenhuma receita ficava satisfatória, foi quando encontrei seu blog com esta receita maravilhosa de pão de abóbora e resolvi fazer algumas alterações.
Ficou um pão integral super saboroso e macio. Perfeito.
Já substitui a farinha de trigo branca por integral, por centeio, por aveia…
Já substitui a abóbora por mandioquinha, batata, mandioca…
Também troquei o açúcar branco por mascavo.
Todos ficaram uma delicia e fazem muito sucesso na família e na escola de meu filho.
Abraço
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