Um Tartare Refrescante

Dia desses agarrou-me um desejo de comer abacates. Desde que fui abduzida pelos alienígenas que me fizeram gostar de manga, tenho essas vontades diferentes.

Antes que o Leitor e a Leitora imaginem que existe um dadivosinho ou dadivosinha a caminho, aviso que não é o caso. Pelo menos por um tempo.

A vontade de abacate, faz-se mister esclarecer, nada tinha a ver com o clássico creminho doce batido. Eu precisava de algo mastigável e salgado, uma salada, talvez.

Acabei por chegar a uma mistura mui simpática que chamei de tartar (embora não o seja, eu sei) e ficou tão apetitoso que refiz no dia seguinte.

O segredo está em escolher bem os ingredientes, caprichar ao picá-los e, principalmente, não se render ao comichão de adicionar mil e um temperos, alhos e conservas.

Ingredientes:

  • 1/2 abacate
  • 1/2 cebola roxa pequena (precisa ser da roxa, que é mais suave e crocante)
  • 1 tomate sem peles e sem sementes
  • 1/2 limão
  • algumas folhinhas de manjericão fresco (o seco não vai prestar)
  • sal e pimenta moídos na hora
  • 1 colher de sopa de lábane (coalhada seca), cream cheese, sour cream ou iogurte dessorado.
  • 1 raminho de manjericão fresco
  • 1 fio generoso do melhor azeite que seu bolso permitir comprar

Como fazer:

  1. Por conta da efemeridade do abacate, esse não é um prato para se fazer com antecedência. Deixe, portanto, para prepará-lo no último minuto. É bem fácil e não vai dar trabalho algum.
  2. Comece picando a cebola roxa em minúsculos cubinhos (os meus tinham 1 mm). Uma faca bem afiada vai ser de grande valia nessa hora. Reserve a cebola numa tigela de vidro.
  3. Esprema o limão por cima da cebola.
  4. Corte o tomate sem pele nem sementes em cubinhos um pouco maiores (0,5 cm) e deixe-os na tigela com a cebola.
  5. Chegou a hora da estrela. Como a polpa do abacate é sensível, você deve tomar alguns cuidados ao cortar. A primeira providência é deitá-lo com carinho sobre a tábua e fazer um corte profundo, horizontal, acompanhando o caroço. Pronto! Agora você tem sua metade de abacate com a qual trabalhar. A outra metade, se não for usar, respingue com limão e leve à geladeira, ainda com o caroço e coberta por uma película plástica.
  6. Com uma faca afiada, vá cortando a casca. Para esse prato não vale aquela técnica de tirar a polpa com a colher, pois vai transformar tudo numa papinha e não estamos a fazer guacamole.
  7. Depois de descascada a metade, deite-a novamente na tábua, com o buraco do caroço para baixo. Faça três cortes horizontais, separe as seções com cuidado e corte-as em quadrados. Formarão cubos de um centímetro, mais ou menos.
  8. Junte o fruto à mistura que aguarda na tigela e envolva com bastante delicadeza. Moa sal e pimenta por cima (resista e não ponha muito, pois a idéia é manter a diversidade de sabores delicados e frescos).
  9. Misture as folhinhas de manjericão e empregue.
  10. Usei um aro para enformar e, às colheradas, fui preenchendo a cavidade, cuidando para não despejar o líquido que se formou.
  11. Em cima do tartar vai a colherada de lábane (ou um dos substitutos recomendados), e o galhinho de manjericão. Um toque de excelente azeite e estamos conversados.

Fica delicioso como entrada leve, compondo uma salada ou acompanhando camarões grelhados para uma refeição frugal em noites de calor.

Pode-se também usar um bom pão como coadjuvante, como de fato fiz. E foi a sorte, pois minha inapetência já começa a incomodar a Vogra, que está querendo bisnetinhos e me deu uma bronca ao telefone:

– Alô?
– Ooooooi minha Lindaaa! Já jantou?
– Já, acabei de jantar.
– E comeu o quê?
– Uma salada de…
– Filha, você tem de começar a se alimentar direito! Imagiiiina, comer só salada! Precisa comer uma carne, frango, um coiso. Porque do jeito que você está, quando ficar grávida, não vai ter nada pra dar pro neném!
– Mas…
– Não tem mas! Estou falando que tem de comer direito e pronto. Salada, salada! Humpf! Salada sozinha não alimenta!
– Mas eu comi uma fruta também. E pão. E lábane.
– Comeu pão com lábane? Então tá bom. Se comeu lábane, tá bom.



22 comentários em “Um Tartare Refrescante

  1. Silvia Arruda

    Dadi do céu!! Ultimamente vc só está fazendo pratos maravilhosos com coisas que simplesmente adoooro 😀
    Adoooro acabate, essa receita lembra muito o guacamole (faltaram só o coentro e as gotinhas de tabasco).
    Como já testei uma de suas receitas (com ctz, provarei mais e mais), sei que dão certo e são deliciosas!! Vou fazer este tartar (chique… ). Depois te conto.
    Bjo, querida!!

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  2. Neile

    Dadi, Dadi!!
    Eu amei esta receita aeee. Vou fazer. Eu tenho problema com abacate desde a infancia. Tinha um pé da fruta lá em casa. Quando produz é uma coisa, tem que doar senão perde…E então, todo dia vitamina de abacate, salada de abacate, abacate com açucar, abacate, abacate! Não posso, ops, podia, nem ver o verde lustroso…Mas, esta receitinha…ummm..fiquei tentada a vencer o trauma.r.s..
    Todavia, a ligação da sua Vogra…ahahaha..to rindo até agora…arrematou com chave de ouro este post…
    Bjs

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  3. Ana

    Dadi,

    Só você mesmo pra me fazer ter vontade de comer alguma coisa com abacate!!! Aguei só de olhar, e eu não gosto de abacate, de jeito nenhum.!! Gosto de absolutamente tudo o que vai na receita, o lábane, então…nham, amo! Mas abacate…ai Nunca comi salgado, sabe? Acho que com essa tua receita até existe uma chance de eu vir a provar…rs..quem sabe?

    Você é, definitivamente, uma artista!

    beijo,

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  4. Fer Guimaraes Rosa

    ho ho ho! sua vogra eh uma fofa! 🙂

    Fer, adorei essa receita, porque nao como bichos crus e essa ideia do abacate eh supimpa! o pobrema eh eu deixar bonitinho assim, como voce deixou. mas juro que vou tentar, pois adorei….. hmm! 🙂

    beijao,

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  5. Dadivosa

    Vocês não têm idéia da bronca que eu levei. Ela estava falando sério! Hahahah

    Vandinha, o lábane e a coalhada seca são a mesma pessoa, conforme escrevi na receita.

    Silvia, sinto desapontá-la, mas não lembra em nada o guacamole não. É outra coisa mesmo, mas creio que você vai gostar dessa também.

    Neile, o sabor não fica nada enjoativo e achei a mistura perfeita mesmo, sem tirar nem por. Ficou leve e refrescante de verdade.

    Miki, eu também gosto muito dessas expressões de antanho, como você bem sabe 😉

    Carol, dadivosinho nem foi concebido e já tem uma carga considerável de responsabilidade nas costinhas. A Vogra disse que o cabelo dele precisa vir liso igual ao meu, e que os olhos precisam ser verdes como os do maridón!

    Ana, fico contente por demais ao saber que você se interessou pelos sabores do tartar. Sinal de que estou logrando meu intento de libertar dadivosas por aí hihihihi

    Gyan, deve ser maravilhosa! A cozinha peruana é riquíssima, sou apaixonada por ceviches (sem coentro, por favor!). Depois me conte mais sobre essa receita da salada?

    Eliana, querida, nunca é tarde para seus comentários e visitinhas queridas. ;*

    Akemi, você encontra abacates facilmente por aí? Faça sim, amiga, que você vai amar.

    Fer, se eu consegui, você consegue com um pé nas costas! Esses arinhos são superpráticos e tudo o que você precisa é segurá-los com uma mão e despejar as colheradas com a outra. Uma niveladinha de leve só para não desmoronar, depois retira o aro por cima et voilà!

    Patrícia, eu não resisti! Precisava contar isso pra vocês, porque só de me lembrar desato a rir…

    ;***

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  6. Cinara

    Dadi, você acredita que não gosto de abacate em versão doce, mas ADORO abacate em saladas e guacamole? Vai entender…
    Também achei ótima a conversa com a sua Vogra! :o)
    Beijinhos…

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  7. Vitor Hugo

    “dadivosinho ou dadivosinha a caminho, aviso que não é o caso” – leu o pensamento de muita gente, se não, o meu ao menos foi! heheheh

    Como a Neile disse, já comi abacate para essa e para a próxima encarnação. Na casa de meus avós tinham um pé de abacate, e rendia.. e como. Infância quase toda tomando litros e litros de vitamina, hehehe. Para se ter uma idéia, era tanto fruto que a minha avô fazia sabão do dito cujo!

    Hoje em dia, eu evito… por ser um alimento muito gorduroso, me dá azia… =/

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  8. Neile

    Eu fiz! Eu fiz!!
    Ficou maravilhosa! Deliciosa…Aprovada com todo louvor, Dadi, Querida…o meu Amor ficou encantado…e realmente a textura e o sabor é de uma delicadeza impar…minhas ressalvas caíram por terra, soterradas pela gostosura…comemos com lábane também..tudo! E picar a cebola miudinho…o tomate menos e o abacate como indicado…faz toda diferença!
    Obrigada, Dadi!!! Nada mais posso dizer..rs.

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  9. Pingback: Dadivosa » Creme de Abacate

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