Dizem que a senhora dona-de-casa deve abster-se de fazer determinadas preparações culinárias quando estiver incomodada (naqueles dias, com problemas de moça) sob pena de desandar toda a receita.
De minha parte, nunca consegui comprovar a relação entre o ciclo hormonal feminino e o (in)sucesso na cozinha, mas de tempos em tempos sou acometida por aqueles dias de comida ruim. Vou toda prestimosa e faceira preparar uma coisinha gostosa e o resultado é deveras embaraçoso:uma papa disforme e um bolo estranho.
Papa disforme foi o que virou meu último arroz com lentilha, ou mjadra, a despeito de já tê-la preparado diversas vezes. A lentilha cozinhou demais, tinha muita água, não sei bem explicar o motivo. Mas não vingou, eis a verdade. Isso aconteceu na segunda-feira.
E ontem cheguei com aquela vontade de assar um bolinho. Só assar mesmo, que a disposição não chegava ao ponto de usar a batedeira. Vou compensar o diacho da mjadra pastosa, pensei. Pus-me a seguir com muito afinco uma receita bastante simples de Bolo de Coco de Liquidificador.
Peneirei duas xícaras de farinha de trigo, uma colher de sopa de fermento, uma pitada de sal e reservei. Bati no liquidificador, por exatos quatro minutos conforme pedia a receita: cinco ovos, 150 g de manteiga em temperatura ambiente, 1 vidrinho de 200 ml de leite de coco, 1 1/2 xícara de açúcar.
Mais fácil, impossível! Agora só precisava misturar os secos com os molhados, né? E foi fácil mesmo, mas a mistura empelotou! Não me deixei abater: passei a massa (que é bem líquida) por uma peneirinha desfazendo os grumos todos, um a um, para depois despejar tudo com amor numa forma de buraco no meio, untada e enfarinhada.
Forno preaquecido, temperatura média por uns 50 minutos. O bolo cresceu feliz, formando uma crosta morena e lustrosa. Ao retirar do forno, encostei o antebraço esquerdo na grade: ‘pssssss’. Normal, pensei. Apenas mais uma pequena cicatriz doméstica. Lembrei-me da chacina do bolo de milho e dessa vez fui ladina: esperei o bolo esfriar um pouco antes de desenformar. Virei num prato e ficou belíssimo, coisa de fotonovela, amiga 🙂
Dormi com a sensação de plenitude que só um bolo bem feito pode proporcionar.
Iniciarei um belo dia comendo uma fatia do meu bolinho no café-da-manhã, pensei. Fiz até uma foto, orgulhosa que estava da minha obra.
Mas o bolo não prestou! Ficou esquisito de uma maneira que não sei bem explicar. Meio borrachento, apesar de não ter ficado duro. Macio, com furinhos, boa cor, bem-crescido, gosto normal, mas a textura definitivamente não agradou.
Por isso tudo, estimada leitora prendada e estimado leitor dadivoso, venho por meio desta nota eletrônica solicitar conforto e uma luz para o mistério dos cozinhados mal sucedidos. Pois, apesar de não desistir nunca e manter o avental a postos, duas perguntas não me saem da mente:
Teria a dadivosice me abandonado temporariamente?
Ou estaria eu numa seqüência de Bad Cooking Days?
Não liga não. Todos temos dias assim!
isso acoontece comigo dia sim, dia sim. nem esquento a moringa mais… quando dah tudo certo, eh um verdadeiro milagre. mas o segredo eh nao esmorecer, nao desistir NUNCA! 🙂 beijos,
Queridas, obrigada pelas palavras carinhosas 🙂
Eu não desisto não, mas fiquei um tanto tristonha com a mjadra e o bolo dessa vez, assim, em seguida, né?
Beijo graaaaaaaaaaande
Olá, Dadivosa
Sou sua leitora e sempre dou uma passadinha por aqui. Apesar de cozinhar pouco, tenho adoração por receitas e gosto muito do seu blog. Essa receita de bolo parece com a que eu faço de bolo de banana. E já vi que se uso a forma de buraco no meio fica ruim. Se faço no tabuleiro fica bom. E em bolo de liqui não é melhor óleo do que manteiga? Eu uso meia xícara. Apesar de não cozinhar quase nada, não tenho o menor medo de tentar ensinar o padre nosso ao vigário. Corajosa, né? Muitos beijos, Ligia
hahahaha!
Isso há de passar…
=)
Lígia, seja bem-vinda! Sério que fica melhor com tabuleiro? Que dica boa, menina. Eu também adoro receitas e como não sou muito boleira, às vezes fico com um pouco de receio de fazer substituições. Mas agora percebi que faz todo o sentido do mundo usar óleo (meu bolo de iogurte levava óleo e ficou bom!).
E que história é essa de ensinar padre nosso pró vigário? Pode ir contando aí os seus truques que não sou vigário nem freira nem noviça nem nada hahahah
Beijo grande e super obrigada!
Carol, há de passar mesmo, que já estou ficando brava! hahaha
Olá Dadivosa,
Acabo de descobrir este seu espaço e estou achando tudo uma delícia !(com o perdão do trocadilho bobo !)…Tenho uma dúvida digna de quem raramente põe os pés na cozinha e quer dar uma de namorada prendada para o amor recém conquistado. Como posso medir 150 gr de manteiga com colheres de sopa ? É possível ? Será que tenho de deixar de preguiça e ir comprar aquelas manteigas em barrinhas (só compro no pote !) ?
Por favor, continue sendo Dadivosa e me ajude antes que eu sucumba ao bolo de caixinha!
Abraços – Tica
Queria mesmo é dialogar com as massas para saber se elas estão se sentindo bem. Há mesmo dias em que nada dá certo.Sou capaz até de fazer batida de banana e maça dar errado. Melhor ficar sem entender.
Tica querida, seja bem-vinda. Em primeiro lugar, achei de uma fofura inigualável você falar que quer ser “namorada prendada para o amor recé-conquistado”. Você tem um jeito todo dadivoso também, não?
Vamos às medidas… 150g de manteiga equivalem a 3/4 de xícara. Não ajuda muito, né? Pois fui investigar e descobri no Tudo Gostoso (https://tudogostoso.uol.com.br/info/medidas.html) que cada colher de sopa de manteiga tem 12g. Achei pouco, então eles devem estar falando de uma colher rasa, não aquele pequeno Monte Everest que se forma quando a gente pega um colherão de margarina com vontade:)
Na receita do bolo-medonho eu usei minhas xícaras de medida, mas costumo calcular a olho mesmo, usando o peso do pote pra me orientar.
Já li também que tem gente que usa aquelas jarrinhas de medida com água gelada e vai colocando a manteiga até que a diferença de volume seja igual à medida pedida na receita… mas ah, muito utensílio pra lavar depois, por isso nunca tentei…
Olha, não sucumba ao bolo de caixinha não (a menos que vc goste muito deles),e depois me conte se o moçoilo ficou impressionado.
Super beijo e obrigada pela pergunta ;***
HAHAHA
Renata, eu também gostaria muito de ter uns dedinhos de prosa com essas massas.
Ocorreu-me agora que pode ser que ela estivesse num dia de cabelo ruim… e não eu! Já pensou?
Beijos
Dadi,
relaxa, que é assim mesmo. Tem dias em que naaada dá certo, e normalmente isso dura dias, mesmo. Não é exagero… O pior é quando traumatiza.. Eu mesma, há exatos 10 anos, fiz um tal de brigadeirão que ficou péééssimo. E nunca, nuca mais tive coragem de fazer de novo. Até pq, traumatizou tb o marido, à época namoradinho…
Agora, já que o bolex não ficou saboroso, mas ficou vistoso, cadê a fotinha dele?
Beijos!
Márcia, então você é a prova viva de que esses momentos de bad cooking day são passageiros e pouco relevantes na carreira da moça prendada! O namorado comeu seu brigadeirão que não deu certo, mas confiou no seu talento culinário (e em todo o resto, claro) e casou mesmo assim! 🙂
Então, eu fiz a foto antes de comer, né? Aí desanimei e deixei na câmera mesmo, até porque as fotos ficaram meio ruins (eu tava com fome, afinal de contas).
;***
Dadivosa, pipoquei de rir do seu post!
Ah, querida, tem dias que não dá nada certo, mesmo. Acho que é alguma conspiração do Universo, sei lá eu.
Não pode desistir!! Tem que ser teimosa nessas horas!!
Beijos e boa sorte!
Pois é,
depois do trauma eu fiz o salmão com maracujá e otras cositas más, e aí ele resolveu “pagar pra ver”.
Acho que não se arrepndeu…
Beijos!
Patrícia, vai ver é pra gente valorizar os dias em que as coisas dão certo, né? (isso fui eu em modo: forçação de barra auto-ajuda para não chorar o leite derramado).
Márcia, você é um podeerrrrrrrrrrrrrrrr! Nem mil brigadeiros desandados demoveriam seu pretendente do intuito de contrair matrimônio!
;***
Amiga, todas temos estes dias sim!
Dá uma raiva na hora ne? Mas como disseram as meninas, o importante é sempre continuar tentando! Beijos!
Menina – e meninas que certamente lerão minhas palavras – bons dias!
Passeando pelas páginas da web cheguei até o Dadivosa. E adorei! Vida, estórias, receitas e experiências culinárias, compartilhadas com carinho e bom astral.
Delícia! Boa parada fiz aqui para aprender, rir e criar dúvidas, muitas dúvidas. Posts ótimos e comentários idem, segredos revelados aqui e ali, deixaram mais ignorante naquilo que pouco sei: cozinhar.
Gente! Um bolo como este de liquidificador, simples ao ponto de ter como ingrediente um vidrinho de leite de côco, se assa em forma untada e polvilhada de farinha?
Será que isso é óbvio por demais para se perguntar? Atento que me coloquei para conhecer os “pulos-de-gato” que uma e outra leitora dá,
no seu mínimo detalhe, esse não apareceu…
Existe algum bolo que se asse sem o devido preparo da forma?
Descobri que alguns bolos ensinados – fácil perceber que sou bom de boca e que os amo a todos, não é? – levam óleo ao invés de manteiga ou margarina (coisa que sempre achei muito moderna!). E esses então, gordurosos que são desde seu início, precisam de manteiga e farinha para se soltarem das formas onde foram assados?
Aiaiaizinho! Sou só dúvidas neste momento! (risos).
Grande abraço daqui de Beagá para você – generosa e dedicada moça, nas artes da cozinha e do blog, e, para as amigas que na parte dos “Comentários” conheci.
Dadivosa,
sei exatamente o que vc quer dizer com bad cooking days!
Ontem eu estava super empolgada para comer meu bolo de banana, aquele facinho, de liquidificador mesmo, mas que é uma delícia. Fiz em 15 minutinhos, ficou divino!!! Coloquei um pouco de pimenta do reino e cravo além da habitué canela… e rodelas de banana nanica madura na massa… dão um sabor bem especial. Enfim, ficou maravilhoso, comi com um gosto danado. Hoje resolvi usar aquele restinho de arroz já cozido e fazer uns bolinhos de arroz. Os meus são bem famosos, uma delícia, mas acredite que ficou bem inssoso…não sei o que houve, coloquei cebola, cheiro-verde, um pouquinho de creme de leite…sal, alho, mas não deu jeito…sem graça…
O arroz também ficou unidos venceremos…ai,ai,ai…
Amanhã é outro dia!
Um beijo e parabéns pelo blog, é uma delícia de ler!
Cláudio, seja muito bem-vindo! Gostei muito da sua pergunta. Embora as massas de bolo levem óleo ou margarina’, é fundamental preparar a forma, sim. Alguns pedem forma apenas untada com manteiga ou margarina e outros necessitam de uma camadinha fina de farinha de trigo (que a gente polvilha de leve,depois vai sacodindo a forma para cobrir por igual), açúcar, fubá ou farinha de rosca. É importante fazer isso para o bolo não grudar para sempre na forma com o cozimento. Espero ter conseguido explicar direitinho, mas se você ainda estiver encafifado com alguma coisa, fique muito à vontade para perguntar… estou até pensando em fotografar um passo-a-passo de untar/polvilhar forma, porque não é nada óbvio mesmo. Obrigada pela visita e pelo comentário querido!
Verena, a gente se sente melhor quando percebe que todo mundo tem esses dias de cozinha ruim, né? E arroz unidos venceremos nem é ruim 😀
Beijo e obrigada pela visitinha.
;***
Menina, eu tive o meu ontem! É traumatizante, mas eu espero que passe!
Bjo
Dadivosa
Acho divino seu blog.
Não se preocupe com bad days cooking, isso vai passar.
Ontem mesmo tive o meu quando fui preparar lentilhas para uma receita húngara. Passaram do ponto de cozimento, fazer o que?
Bjs