Não lembro mais onde li que as línguas faladas nos lugares mais quentes da terra tendem a apresentar muitas vogais. Lenda ou não, acredito de verdade que essas cinco letrinhas conferem cor e alegria ao falar.
Foi pensando nisso que me dei conta, enquanto picava as abobrinhas, de que a palavra ratatouille tem todas as vogais dentro dela! Vai ver é por isso que cor e alegria não faltam a essa receita, que tem verde, tem branco, tem vermelho, tem amarelo, tem roxo…
Concluí que, ao contrário das brevidades, que devem ser apreciadas com mansidão, este é um bom exemplo de coisa que combina com a palavra, de comida cujo nome já anuncia os sabores.
Alguns chegam a alegar que se pode produzir uma ratatouille a partir de quaisquer legumes que estiverem à mão. Eu, todavia, tenho pra mim que a combinação de cebola-pimentão-abobrinha-beringela-tomate é tão perfeita que não deve ser estragada com variações demasiadas. Acho que uma batata, embora deliciosa, não ornaria jamais! Ficaria lá boiando, perdida, inconveniente, até.
Serelepe, outra palavra de que gosto muito, foi como resolvi batizar meu tempero recém-inventado. Achei que a pimenta calabresa, com seu ardidinho matreiro, combinou muito bem com todos os legumes.
O leitor e a leitora podem produzir sua própria mistura, combinando temperos variados, sem esquecer de batê-los bem com o sal grosso num almofariz. Esse procedimento faz toda a diferença, pois ativa o perfume das ervas e especiarias empregadas.
E como todas as receitas aqui têm a intenção maior de despertar a Dadivosa que existe em você, fique à vontade para dar vazão à criatividade ao preparar sua própria cozedura.
Ingredientes básicos:
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1 cebola grande
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1 pimentão amarelo
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1 abobrinha grande ou duas médias
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1 beringela de bom tamanho
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tomates sem pele [usei uns dez, caseiros, dos que não vêm de dentro da latinha]
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um bom azeite, o quanto baste para refogar
Ingredientes do tempero Serelepe, todos secos:
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Orégano [bem bastante]
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Manjericão [menos]
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Alecrim [tiquinho]
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Louro [uma folha das pequenas]
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Pimenta calabresa [usei bastante e gostei, mas é prudente tomar cuidado]
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Sal grosso [foi uma colher de sopa, mais ou menos]
Como fazer:
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Gosto de começar esta receita picando todos os legumes em quadrados de mesmo tamanho. A única exceção é a beringela, que pico só na hora de incorporar ao refogado para que ela não escureça.
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Leve ao fogo uma panela grande com azeite. Costumo usar o tanto de cobrir levemente o fundo.
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Quando o azeite estiver aquecido, junte as cebolas e mexa de vez em quando, até que fiquem transparentes.
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Pique a beringela e adicione. Mexa mais um tanto, até que murche um pouco e esteja aquecida.
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Nessa hora, coloque em seu pilãozinho os ingredientes do tempero serelepe e vá misturando/batendo, entre uma adição e outra dos legumes, até que o preparado se reduza a quase pó. O sal precisa ser grosso para ajudar a triturar as ervas, a folha de louro e a pimentinha.
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Hora das abobrinhas, que devem ser incorporadas também até ficarem quentinhas e perderem um pouco da água.
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Finalmente, adicione o pimentão amarelo. O objetivo de adicionar os legumes um a um é dar tempo para que cada um seja aquecido e solte um pouco de seus sucos sem formar um aguaceiro na panela.
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Quando a mistura estiver bem calorosa novamente, vem um momento mágico. A adição do tempero serelepe! Faça-o cair em chuva sobre os legumes e, com a colher de pau, incorpore essa poeira aromática de modo que ela envolva cada um dos quadradinhos.
O perfume estava tão bom, mas tão bom, que me fez roubar várias abobrinhas e berinjelas semi-cruas. Precisei me recompor para conseguir terminar a receita. -
Adicione os tomates pelados cortados grosseiramente, misture tudo novamente e cubra a panela. Daqui para frente, mais uns 15 minutos dão cabo do cozimento. Não é necessário adicionar água, muito menos (que horror) qualquer tipo de purê ou pasta de tomate. Os legumes se bastam, como falei.
A Elizabeth David recomenda que as beringelas sejam picadas com bastante antecedência, salpicadas com sal, levadas a uma peneira e cobertas com um prato pesado para fazer escorrer todo o líquido. Confesso que não me dou a essa trabalheira, principalmente porque, quando resolvo sapecar uma ratatouille, o resultado precisa vir rápido 🙂
A ratatouille, pra mim, é comparável em versatilidade ao refogadinho de carne moída, pois é bem capaz de:
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servir de molho para uma massa curta,
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fazer companhia a um arroz e um assado,
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virar recheio de torta,
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ir parar dentro de um pão árabe para um lanche rápido,
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transformar-se, quando fria, em hors d’oeuvre…
… ou mesmo reinar sozinha no prato, coberta apenas por um fio de azeite.
Reza a lenda que outra vantagem desse colorido preparado é que ele sobrevive muito bem ao ser reaquecido após uns dias de geladeira. Sinceramente, não sei precisar quantos, pois em casa nunca dura mais de 24 horas 😉
Ai, muita verdura pra mim… Mas se fosse o feito por você, juro que eu provaria!!!
Pq mesmo sendo com leguminhos argh, a cara fica tããão esplendorosa…
Beijos e bom finde!
Maravilha! Cheiroso, saudável e equilibrado! Do jeitinho que eu e minha pequena Tomie adoramos! Aliás todos a chamam ora de menininha beterraba
ora de garotinha inhame!
Adooooooro este prato, amiga! E este seu, todo colorido, enche os olhos e a boca d’água!
Dadi (intimidade recolhida do Rainhas!!!), viciei-me em bisbilhotar seu canto, talvez nem tanto pelas receitas, apesar de maravilhosas, mas pela sua escrita! Adoro seu bom humor e sua forma carinhosa de escrever para quem vem aqui. Sua ratatoullie deve refletir seu estado de espirito, continue mantendo sempre esta alma perfumada. Beijos.
Brilhante, Fer! 🙂
Eh um prato de verao pra mim, de luz, de calor.
mas agora a turminha pimentao, berinjela, tomate, abobrinha ja esta acenando so long, good bye, farewell, despedindo-se das mesas daqui do norte. Ate o ano que vem!
beijos,
Márcia, quem sabe se você experimentar um quadradinho de cada legume, hein? Fica saborosíssimo, pois a ratatouille é cheinha de personalidade. Vai por mim 🙂
Ana de Toledo, que fofura a Tomie gostar de legumes desde pequenina. Eu também sempre gostei, mas é raro, não é?
Akemi, eu também amo verduras e legumes. E ratatouille, então, como pura!
Rejane, seja muito bem-vinda. Chame-me da maneira que preferir, não tem problema não. Fico muito contente que você goste desse cantinho. Obrigada pela visita e pelo comentário carinhoso.
Fer, quem sabe em Dezembro, quando você vier ao Brasil, hein?
Beijos a todos e todas ;***
menina! quase lambi a tela….e essas cores hein? só pode ser coisa de menina prendada mesmo! palmas pra vc querida.
Ah, Dadi!!
Bom demais te conhecer pela lente da Faby! Linda com a Jaboticabeira….aliás, todas lá eram só sorrisos, né?!?!…
E aindavoltou pra fazer este ou fez antes, danadinha?!?!
Amo legumes e vou fazer este loguinho…
Beijos e bótimo findi!
Adoro ratatouille, especialmente quando bate aquela preguiça… Jogo um macarrão e pronto!
(Vi sua foto nas Rainhas, adorei seu cabelo!)
Veia, ratatouille tem cara de verão, né?
Neile, acabei de ver a foto. Estou da cor dos cabelos…na hora da palhaçada a gente nem imagina que o momento ficará eternizado na rede mundial dos computadores! hahaha
O encontro foi esplendoroso, espero que você possa ir no próximo 🙂
Karen, obrigada, você é um amor!
;***
Sucesso nós blogueiras no Estadão, heim?
Beijo!
Tatu
Dadi, escolha ótima.Adoro ratatouille. Agora só voce para apresentá-lo de uma forma tão charmosa.
Tatu, tomara que mais pessoas libertem suas dadivosas e façam seus bloguinhos, né?
Valentina, acho que só não sou vegetariana porque como carne! haahah
;***
Testatei sua ratatouille serelepe esta semana. Adorei te ver de novo.
Beijo
Que prato cheio de cor… e saúde, deve estar bem saboroso!!!
Beijinhos
Obaaa! Eu também, Dani. Precisamos arrumar um cantinho em nossas agendas atribuladas para um passeio gastronômico, né?
Cris, já estou até com vontade de repetir a dose 😀
Beijos
Dadi, tô atrasada amiga!
Mas que delícia esse prato. Amo legumes e esta combinação é excelente por si só – um pedacinho de pão italiano do lado e mais nada!!!
Ou uma tacinha de vinho…
Hum, água na boca!!
Patrícia, eu fico com os dois: o pão e o vinho hahaha
Beijo grande
Dadi…
É por delícias como esta – poetica e lindamentemente datalha por vc – que considero o cozinhar não só uma arte mas algo mágico… encantador (no puro sentido mesmo!)…
Somos bruxas!
Somos alquimistas!
Sora, mas eu prometo a você que nunca uso olho de urubu, nem pó de língua de cobra hahahha
;***
Já fiz esta sua receita de Ratatouille várias vezes, Dadi, mas só agora consegui publicá-lo lá no Cinara’s Place. Mais uma receita maravilhosa, como todas as que você faz… ;o)
Beijocas e bom final de semana!
Concordo plenamente contigo!!! Lindas palavras!
Bem, o ratatouille aqui em casa é devorado rapidamente. Faço com os vegetais em rodelinhas bem fininhas, acrescento um pouco de linguiça calabresa ralada ao molho de tomate e ponho uma folhinha de manjericão ao lado de cada rodelinha de tomate.
Adorei o blog!
Dali, tudo bem? Nunca pensei em colocar linguiça no molho, deve ficar gostoso!
Um beijo ;***
Olá Dadivosa. Você é a autora dessa maravilhosa receita? Parabéns! Há anos que utilizo sua receita. Amo de paixão, sem tirar nem por nenhum ingrediente ou forma de fazer. Obrigada por compartilhar! Beijos.
Ana Maria,
Sim, que bom que você gostou!
E muito obrigada por voltar aqui e contar, fico feliz da vida quando minhas receitas se espalham…
Um beijo ;***
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