“This is a coarse-textured, nutritious, and satisfying loaf with an earthy taste”
A descrição acima, apresentada logo antes da receita, conquistou-me no ato. Meu pouco jeito com pães, no entanto, fez com que a empreitada não vingasse de primeira. Intrépida e obstinada (para não dizer teimosa e cabeça-dura), lancei-me em nova tentativa, dessa vez com mais sucesso.
A seguir, reproduzo a receita em tradução livre e conto ao Leitor e à Leitora aqueles detalhes que escapam à impressão dos livros.
Ingredientes (para dois pães):
- 2 xícaras de água morna
- 2 pacotes de fermento seco para pão
- 1/4 xícara de melado (mel de engenho)
- 1/4 xícara de açúcar mascavo
- 1/2 xícara de leite em pó desnatado
- 3 colheres de sopa de óleo vegetal (usei girassol)
- 2 1/2 colheres de chá de sal
- 1/2 xícara de gérmen de trigo tostado
- 1/2 xícara de sementes de girassol tostadas
- 4 a 5 xícaras de farinha de trigo integral fina
Como fazer:
- Misture a água morna e o fermento numa vasilha grande e deixe descansar por alguns minutos.
Tenho imensa dificuldade para lidar com alguns minutos quando o assunto é assar um pão. Tendo a fitar o preparado, na esperança de que sob meus olhões arregalados alguma coisa se transforme. Para ser educada, fiz de conta que preparava os outros ingredientes. Creio que se passaram uns três minutos, não mais. - Misture ao fermento: o mel de engenho, açúcar mascavo, leite em pó, óleo e sal.
Tratei de fazê-lo exatamente na ordem indicada, dissolvendo um ingrediente por vez em movimentos circulares e pacientes com a colher de pau. - Adicione o gérmen de trigo, as sementes de girassol e duas xícaras de farinha integral e bata vigorosamente por um minuto.
Novamente, fiz como mandou o figurino. Um minuto cravado, com vigor e alegria. Ficou uma massa mais para o pastoso, quase um bolinho. - Adicione mais farinha aos poucos, o suficiente para formar uma massa maleável.
A Prudência, aquela dona que sempre carrega um guarda-chuva e casaquinho, de fala ao mesmo tempo doce e austera, veio em meu socorro.
Munida de toda a calma, adicionei a farinha às colheradas até sentir que poderia trabalhar a massa sem que ela escorresse por entre meus dedos. - Sove por um minuto em superfície enfarinhada e deixe descansar por dez minutos.
Usei farinha integral para polvilhar a superfície de trabalho. Para facilitar a vida, abri um bocão no pacote da farinha e pegava dali o suficiente apenas para formar uma camada finíssima sobre o mármore. - Volte a sovar por mais dez minutos, até que fique macio e elástico, somando mais farinha para evitar que fique muito grudento.
“Não se pode juntar muita farinha, é necessário ir aos pouquinhos para que os ingredientes se entendam, que o trigo absorva a umidade necessária sem saturá-la”, Prudência sussurrou ao meu ouvido.
Desta feita, notei que a massa estava mais fácil de mexer, de puxar, de sovar… em vez de um monte ressecado e resistente como da última vez, o que tinha em mãos era uma bolota lasciva, pronta para receber meus afagos.
As sementes de girassol, lá pelo nono minuto, insistiam em escapar a cada dobrada. Interpretei a debandada ocasional como um aviso de que a massa não mais receberia um grão de farinha e parei a sova no tempo indicado. - Coloque em uma vasilha untada, cubra e deixe crescer até dobrar de tamanho.
Fi-lo e saí de perto para cuidar de outros afazeres.
Tenho pra mim que as massas irritam-se com o voyeurismo exacerbado do cozinheiro e, de pirraça, recusam-se a crescer quando as espiamos com muita freqüência.
Duas horas se passaram até que eu espreitasse pelo cantinho do pano.
De fato, havia inchado lindamente. - Empurre a massa para baixo para tirar o ar e forme dois pães. Coloque cada um numa forma de bolo inglês. Cubra com um pano e deixe crescer até chegar à borda das formas.
O sucesso do primeiro desabrochar da massa trouxe consigo o Frenesi, homem sedutor e irresistível, que raptou meus pensamentos e levou consigo Dona Prudência.
Não medi o tempo mínimo regulamentar de uma hora, tampouco aguardei a massa sequer dobrar de volume.
Foi minha ruína, confesso. - Asse em forno preaquecido a 180 graus por 1 hora. Remova das formas e deixe esfriar sobre uma grade.
Ao fim e ao cabo, o pão ficou mais macio do que a tentativa anterior, mas ainda assim um pouco aquém do que o devido.
Culpa do Frenesi, homem safado de mãos bonitas que me distraiu quando estava prestes a lograr o desafio!
A receita foi executada a partir do delicioso “A Little California Cookbook”, de John P. Carroll, ilustrado por Darlene Campbell, e presenteado pela queridíssima Fer.
Assim que me desvencilhar do Frenesi, prometo ensaiar a feitura desse pão novamente, pois o sabor é incrível, a textura deliciosa e a satisfação garantida. Os dois baixinhos que resultaram serão fatiados em lâminas finíssimas e transformados em delicadas torradas.
Hum, esse renesi parece ser tudo de bom!
Pena que desconcentre, né?
😉
Mas sm assim o intento logrou êxito, viu, dona? Pelo menos na foto ele está lindinho…
Beijos.
Dadi, só você 🙂
a massa, uma bolota lasciva! quáquá, ro rindo até agora
Ai, Menina…
Este seu romance com a comida..rs…vai acabar em romance literário qualquer dia!!! “E bolota lasciva, pronta para meus afagos…” foi muito sensual…rs..aliás, toda a descriçao da receita soou como um flerte descarado a este pão…com certeza vocês vão se entender, mais dia, menos dia..rs..
Beijucas e bótima semana…
Já morri de rir da Prudência e do Frenesi.Só voce mesmo querida.leitura deliciosa.
olha, quase morri de pavor quando vi isso aqui
https://rubbahslippahsinitaly.blogspot.com/2007/05/creste-di-gallo.html
:***
Isso deve ser óptimo para fazer sanduíches deliciosos! 🙂
Bolota lasciva, meus afagos, debandada ocasional de sementes de girassol, massas irritadas com o voyeurismo exacerbado!?! kkkkk, você é ótima!!! Bjs. ;o))
Receita contada assim, feito romance, enche a boca d’água!!!
beijinho
Márcia, o Frenesi é a perdição da cozinheira 🙂
Leila, quase pude ouvir sua risada gostosa, fiquei contente!
Neile, Deus te ouça! Esse pão não me escapa, ainda hei de conquistá-lo!
Valentina, a Prudência bem que tentou, né?
Julio, esse eu passo também.
Elvira, ainda não ficou no ponto para sanduíches, mas da próxima vez acho que consigo 😀
Geórgia, essas massas são muito caprichosas, não poderia deixar de contar a vocês aquilo que escapa à impressão dos livros de receita, né?
Mariliafig, você falou bem. O romance transborda e vai pra comida ;***
Fê, voce transformou uma simples receita num evento literario! :-))
Fico olhando de longe as habilidosas e corajosas fazedoras de pao. Uma receita assim iria me tomar o dia todo, e exigir uma concentracao de mosteiro zen.
beijaooo, 😉
Duas, Fer!!
Da última vez que tentei fazer pão (de cebola), sovei tanto a massa que quase abri o pulso..r.r.s..sabe aquela história que o suor derramado é o sucesso do pão?!?! Eu acreditei!.r..r.s.rs..Faz tempo que não me atrevo..rs..
Beijucas…
Menina, algum dia eu ainda vou me enamorar de pão integral.
Dadi, fiquei com uma vontade de experimentar esse seu pão…vou anotar a receita e será meu próximo feito. Eu tento usar minha máquina de pão ao máximo, não tenho paciência nem resistência para sovar na mão, então acabo tentando fazer na dita cuja. Vou testar e se der certo eu aviso, ok?
O melado e o germe de trigo com as sementes de girassol devem dar um sabor muito bom!
Um beijo e obrigada por dividir essa delícia!
chovendo no molhado, interessantíssimas receita e observações.
mas quem matou a pau foi a valentina ao te epitetar definitivamente:
querida leitura.
demais.
Minha querida amiga Dadi Gump, esse pãozinho está querendo me conquistar – será que o Frenesi andou dando aulas a ele? 😉
Parece bom demais, querida! Mais uma receitinha de pão pra provar – oba!
Fer, o problema é esperar e esperar e esperar… mas a receita é muito inspiradora, assim como todo o livrinho, um amor!
Neile, sou das suas! Sabe, com esse pãozinho eu descobri que estou quase descobrindo o ponto em que a massa deve estar para a sova. Ela precisa estar lasciva, lembre-se disso. Uma massa dura no momento de sovar resulta num pão farinhento. E pode provocar uma LER/DORT! 😀
Agda, esse é um integral itegralíssimo, não vai nada de farinha branca, é hardcore 😉
Verena, não sei como funcionam essas máquinas de pão, mas andei vendo por aí que são mesmo muito competentes. É provável que o pão vingue com ela. Depois nos conte, sim?
Augusto, e a sua Dadivosa, quando vai se libertar? Pressinto uma fagulhinha de vontade de vestir o avental 😉
Patricia, o Frenesi anda à espreita, aproveite!!!! 😀
;***
Menina…que legal!
Esta é avisão mais formidavel que já encontrei para se fazer um pão…
Adorei
bjim
migalhas dormidas do teu pão, raspas e restos me interessam,
ME INTERESSAM……